sábado, 9 de agosto de 2008

Paso San Francisco

Estamos em Antofagasta, no Chile. Saimos hoje um pouco antes do almoco de Copiapó, onde descancamos apos a travessia da Cordilheira dos Andes pelo Paso San Francisco. E esta travessia entrou para a nossa estória. Nós tres concordamos: foi a experiencia em viagem de moto mais fascinante, incrível e difícil que já passamos.
Quando ainda estavamos planejando efetuar a travessia por este paso, primeiro nos preocupamos com a temperatura, certamente bem abaixo de zero. Nos preparamos, compramos coletes térmicos, luvas especiais, roupas especiais. Depois nos preocupamos com o ripio. Procuramos e tentamos buscar melhores pneus em Córdoba, mas só haviam disponiveis os Metzeler Karoo, que nao iriam durar toda a viagem. Estes pneus, em uso misto, duram de 4.000 a 5.000 km. Ainda em Córdoba, conversando com um argentino muito gente boa e que havia feito esta travessia 3 semanas antes, nos despreocupamos. Ele nos disse que o ripio estava bem consolidado, com poucos bolsoes de areia. Nada que nos tirasse o sono. Assim, resolvemos manter os pneus originais. A preocupacao seguinte esra a distancia sem abastecimento. Seriam 480 km, sem possibilidade de abastecimento. O ultimo ponto seria a pequena cidade de Fiabalá, no pé da cordilheira (1.600 metros) e o ponto seguinte seria Copiapó, já no Chile, 800 metros de altitude e 480 km de distancia. Destes 480 km, 200 km eram de asfalto (primeira parte, na Argentina) e os 280 km seguintes, de ripio, lado chileno. Fizemos as contas e em Cordoba compramos 6 galoes de 5 litros, para colocar gasolina extra. Na minha moto, ainda tinhamos dois galoes de 2 litros, para uma emergencia.

E achavamos que tinhamos pensando em tudo...rsrsrsrs...
Quinta, dia 7, saimos cedo de Córdoba e seguimos para Fiabalá. A paisagem mudou bem, se tornando muito mais agradavel, principalmente na saida de Córdoba, quando subimos a serra visinha. 773 km depois, estavamos em Fiabalá e nos hospedamos bem na entrada da cidade (que possui uma terma muito frenquentada). Nos hospedamos na Pousada Santa Rita, indicacao do mesmo argentino gente boa que havia feito esta travessia. Fomos muito bem recebidos pela Alejandra e seu marido, que inclusive nos levaram para janatr. Show de bola. A nossa animacao para a travessia era evidente.


Perguntamos qual a temperatura no topo da travessia e nos informaram que durante o dia ficava na ordem de -5 a -15 graus, e a noite entre -20 e -25 graus....hehehe.. Afinal, a altitude era de nada mais, nada menos, que 4.760 metros.
E foi ai que o bicho pegou. Nao pelo frio, que enfrentamos (entre -5 e -10 graus) e sim pela altitude e pelo tempo que ficamos expostos a ela.
O Paso de San Francisco possui um gradiente de subida e descina bem suave, ou seja, a altitude avanca e recua de forma devagar. Os 480 km sao distribuidos mais ou menos assim: os 200 km iniciais, no lado argentino, é todo asfaltado (tem um pequeno trecho ainda em confeccao) e sobe-se de 1.600 metros para os 4.760 metros do topo. Um pouco antes, na altitude de 4.200 metros, encontramos a aduana argentina. A aduana chilena fica a 100 km da aduana argentina, a cerca de 3.600 metros. Porem, estes 100 km entre as duas aduanas esta quase que 100 % acima dos 4.500 metros. E o tempo que permanecemos ali, parando para tirar as fotos (é o ponto mais lindo), para colocar a gasolina extra e com a parte do ripio em pior condicoes (muitos bolsoes de areia), simplesmente quase nao aguentamos. O cansaco é muito grande, pelo ar rarefeito. Quem mais sentiu foi o Mamute, que ficou se controlando para nao passar mau. A nossa sorte foi que na aduana chilena, eles tinham oxigenio. Primeiro o Mamute e depois o Armando..rsrsrsrs.. O tempo que ficamos na aduana chilena foi que segurou a onda da altitude. Mas foi ali que tambem sentimos mais frio, pois os coletes nao estavam ligados nas motos....


Saindo da aduana chilena, e ainda sofrendo um pouco pois voltamos a subir para 4.200 metros, seguimos de forma um pouco mais tranquila. A medida que a altitude reduzia, melhoravamos e, já abaixo dos 3.000 metros, relaxamos.
E foi muito punk. Muito mesmo. Eu e Armando ficamos bem preocupados com o Mamute, mas ele segurou a onda legal (já pensou se ele apaga no meio do nada... que m...)...
Durante todo o percurso, só cruzamos com tres carros. Dá um frio na espinha só de pensar...
Porém... como eu disse, foi sem duvida a experiencia mais incrivel que passamos. O visual é fascinante, dificil de descrever. Tem uma lagoa (Lagoa Verde) que fica a 15 km da divisa, que é algo alucinante. Pelo tamanho, pelo lugar que está e principalmente pela cor. Um verde azulado maravilhoso. A cada km, uma paisagem linda. Picos nevados, vales imensos, bem lunares, ceu com um azul vivo e uma solidao impressionante. É dificil descrever. Tem que ir lá...
Nenhuma das centenas de fotos que tiramos vai conseguir mostrar o que “sentimos” lá em cima, a 4.760 metros.
A tres motos foram muito bem. Nao tivemos nenhum problema. Só o consumo da Vstrom do Mamute bem superior ao das GS (Vstrom com 13 e as GS com 18). Nao caimos, apesar de alguns sustos. Nao sentimos a falta de potencia, pois o ritmo era de passeio. Conforto nota 10, ainda mais com os coletes térmicos.
Levanos 12 horas para fazer a travessia (480 km), comendo apenas alguns biscoitos congelados..rsrsrsrs e bebendo agua gelada....
Em Copiapó, achamos um hotel manero e simplesmente desmaiamos. O Armando nem conseguiu jantar..Também estava aproveitando, pois era a primeira noite que tinhamos dois quartos no emmso apartamento. Assim, o Mamute e o seu super ronco destruidor de sono nos deu uma trégua...rsrsrs...
Dormimos até mais tarde, tiramos o pó das motos e viemos Deserto do Atacama a dentro até Antofagasta. Estamos em um hotel em frente ao Oceano Pacífico. Amanha, seguimos cedo para San Pedro de Atacama, onde encontraremos com a Katia e o Mauricio. A trevessia do deeserto do Atacamos foi bem cansativa. Calor e muita reta. Apenas 570 km, mas que nos pareceu bem mais...

E fica o registro: quem desejar aventura, que busque o Paso de San Francisco...





Tulio, Mamute e Armando...